domingo, 24 de abril de 2011

O dia de trabalho do alentejano

O que dizem as más línguas do dia de trabalho do alentejano.


O galo cantou

A manhã raiou

O sol apontou

O alentejano se levantou

Os sapatos calçou

A cara lavou

A roupa enfiou

O café tomou

Depois se espreguiçou

Mas lá se encorajou

E as mãos esfregou

Para o trabalho s echegou

Mas logo pensou

Não azeda nem azedou

E à sombra se sentou

E um pouquinho descansou

O suor limpou

Algum tempo passou

E a seguir almoçou

Depois repousou

E não se conformou

De novo balbuciou

E o trabalho não azedou

Quem seria que o inventou

Que ninguém o enforcou

Também protestou

Que o trabalho que lhe calhou

Muito muito muito ansou

A coisa melhorou

Quando reparou

Que a noite chegou.

Então se alegrou

E as mãos dos bolsos tirou


Não é assim não senhor

Diga a todos com coragem

Não deixe qualquer estupor

Estragar a sua imagem


Imponha-se, seja forte

Chega de humilhação

Quem sabe, um dia com sorte

Se saiba o que os outros são.


domingo, 17 de abril de 2011

o pastor alentejano

O pastor Alentejano



No Alentejo o pastor

Com o rebanho a seus cuidados

Passa frio e calor

Sem domingos nem feriados.


Sem nunca sair da terra

Sem ambição desmedida

na planície ou na serra

passa o pastor a sua vida.


Era assim antigamente

Dias quentes noites frias

Agora presentemente

Já há outras regalias.


Isto mudou bastante

Desde o sul até ao norte

Já são gente importante

De samarra e capote.


Já tem telefonia

Muito bem sintonizada

É a sua companhia

À noite e de madrugada.


O rebanho unido

Ao ouvir o trrim trrim

Telemóvel ao ouvido :

- TouXim... é para mim.


domingo, 10 de abril de 2011

O que é o Dinheiro ?

O que é o Dinheiro ?

O diabo com asas.

A tentação do dinheiro

Tenta grandes e pequenos

Há de chegar o primeiro

A dizer que quer menos.


Temos a casa tão cheia

Que não cabe o que lá está

Mas se o dinheiro se bandeia :

- Venha venha cabe lá.


O Safado cabe sempre

Sem ocupar lugar

Um objecto diferente

Que aconselha a trabalhar.


Chega-nos a convencer

Ser o jeito mais capaz

O dinheiro vai correr

E nós corremos atrás.


Apanha-o quem puder

Às vezes aconteceu

Não importando sequer

A maneira como e seu


Mostrando-se com frescura

Com poder de sedução

Também leva à loucura

Quem para ele tem mão.


Gosta de ser contado

Dividido com jeitinho

Gosta de ser suado

E tratado com carinho.


Quando não é desse jeito

De outro jeito não gostou

Não se sente satisfeito

Bateu asas e voou.


Atingindo grande altura

Basta-lhe apenas um sopro

Leva então à loucura

Que era tanto e é tão pouco.


Acha o mais sortudo

que nasceu de cú virado

que o dinheiro paga tudo

pobre infeliz... está errado.


Paga sim e em geral

Haja chuva ou haja sol

A vaidade pessoal

Que floresce sem controle.


Faz-se muito poderoso

Gosta de se mostrar

Com seu ar de vaidoso

Gosta de amachucar.


Todos gostam muito muito

De vê-lo na sua mão

Para uns fica junto

Para outros parece um balão.


Balão que vai ao ar

Subindo a grande altura

Que depois ao rebentar

Pode levar à loucura.


O que é o Alentejano ?

O que é o Alentejano ?

Um exemplo a seguir.

Vou mostrar a intenção

De não lhe falar à toa

Fala bem e com razão

Quem fala de gente boa.


O povo Alentejano

É mal visto e mal amado

Deve haver algum engano

Que pode ser reparado.


Conheça o Alentejano

Faça dele seu amigo

Logo desfaz o engano

Que tem trazido consigo.


Há gente com talentos

Cada qual com sua arte

Gente de bons sentimento

Como há em qualquer parte.


Tão bons como os melhores

Tudo sabem produzir

Que seria dos senhores

Que deles só sabem rir.


Quem não é Alentejano

Não se faça mais esperto

Isso apenas é engano

Que nada tem de concreto.


Alentejano é pacifico

Mas por ser boa pessoa

É educado e cívico

Se lidar com gente boa


Alentejano é modesto

Mas sabe aquilo que vale

Trabalhador e honesto

Não sei se haverá igual.


Alentejano coitado

Que pisa poeira e lama

E sempre sempre atacado

Com anedotas de má fama.


O Alentejo não dá

Só motivo de anedota

Não julgue que só há

O sobreiro e a bolota.


A gente fala dos nossos

Que é aqueles que conhece

Cada um fale dos vossos

Dê-lhe o valor que merece.


Só uma coisa precisa

Para desfazer o engano

Quando a testa não é lisa

Não é Alentejano.


Produza o mais que possa

Nisso tenha vaidade

Não ligue ao ar de troça

Que fazem os da cidade.


O que é A cadeira da presidência ?

(escrito para as presidenciais de 1986)

O que é A cadeira da presidência ?

Um objecto com enorme poder de atracção.


Meu Deus que paciência

Para ver tanto alvoroço

Para chegar à presidência

São sete cães a um osso.


Vão de cabeça erguida

Os grandes e o seu faixo

E como em tudo na vida

O pequeno fica por baixo.



Até no reino animal

Isso dá para perceber

Sem cadeira presidencial

Também querem o poder.


A cadeira do poder

Tem uma enorme atracção

Até dá sem saber

Muita deformação.


É frequente ver

Gente que era boa

Quando chega ao poder

Parece outra pessoa.


Gosta de amachucar

Quem circula em seu redor

Faz questão de mostrar

Que ele ali é o maior.


Pode ser um Zé ninguém

Mas se consegue a cadeira

Acha logo que tem

O mundo na bagageira.


Põe a pata e amachuca

Esquece de onde vem

Essa coisa mixuruca

Que já foi um Zé ninguém.


Ou é a cadeira em si

Ou é a sua estrutura

Ou é algo por ali

Que tem muito de doçura.


Parece que tem mel

Todos querem lamber

É o Zé e o Manuel

Todos querem o poder.


É a bendita cadeira

Que só serve para sentar

Mas que dá uma trabalheira

Para de lá levantar.


Não há regra sem excepção

Há sempre a parte boa

Há presidentes que são

A bondade em pessoa.


Muito poucos é verdade

Quase se contam a dedo

Que só mostram a bondade

Um tanto ou quanto em segredo.


A culpa é de quem ?

Do sistema certamente

Não aceita que ninguém

Se mostre humildemente.


Tem que ser e parecer

Carrasco e abelhudo

É a força do poder

Que provoca isto tudo.


É a célebre cadeira

Que os quer lá sentados

Vão saindo da fileira

Todos eles emproados.


Ao saírem da fileira

Mais parecem um peru

Mas na bendita cadeira

Poucos lá sentam o cú.


As 9 capicuas da nossa vida!!


As 9 capicuas da nossa vida!!


Durante um século de vida

Temos noves capicuas

Está na hora da partida

para quem contar as suas.


Aos 11 anos fazemos

A primeira capicua

A idade em que só queremos

As brincadeiras de rua.


Mas logo depois

Em passo acelerado

Fazemos os 22

Vendo as coisas de outro lado.


Lá seguimos outra vez

E quase sem dar por isso

Fazemos os 33

É o maior compromisso.


Continuando a corrida

44 chegou

é quase meia vida

que o tempo já levou.


Depois 55

Já no topo do escadote

Seguramo-nos com afinco

Com medo de ser velhote.


Mas parece que descemos

Os degraus a três e três

E logo logo fazemos

O numero 66


Outra descida ligeira

E lá está 77

A idade traiçoeira

Nada dá, nada promete


Pouco se vê para a frente

Muito se vê para trás

Mesmo assim se está contente

Quando 88 se faz.


99 chegou

passou o século de vida

para quem as nove contou

está na hora da partida.